segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Batom na caveira: uma conversa exclusiva com as únicas quatro mulheres do Bope


Fonte: REVISTA MARIE CLAIRE

Elas são as únicas mulheres entre os 400 homens do Bope, tropa de elite da Polícia Militar. Assim como os rapazes, sobem o morro, pegam em armas e negociam com traficantes. Mas, ao contrário deles, são vaidosas, adoram um esmalte colorido e não pedem para sair

Por Mariana Kneipp e Marina Caruso. Fotos Daryan Dornelles
 Daryan Dornelles
Da esq. para a dir.: soldado Ana Paula, capitão Bianca, tenente Marlisa e sargento Ana
Ana da Silva, 43 anos, foi a primeira mulher a entrar no Bope, em 2001, depois de dez anos servindo noBatalhão de Choque da Polícia Militar. Casada há sete com um colega de farda, atua nos morros cariocas e no departamento de disciplina da corporação. Bianca Cirillo, 40, está na tropa há três, é psicóloga, casada e expert em negociação de liberação de reféns. Ana Paula Monteiro, 29, chegou há dois anos e meio, namora há seis com um dentista e cursa o terceiro ano de Engenharia Civil. Marlisa Neves, 29, é formada em Jornalismo, entrou na polícia há oito anos, no Bope há seis meses e cuida da assessoria de imprensa do grupo. Nenhuma delas fez o desumano Curso de Operações Especiais (aquele que aparece no "Tropa de elite I"), mas todas sobem o morrosabem atirar e negociar com bandidos. Foram submetidas a duros testes de resistência física e psicológica até serem condecoradas sargento, capitão, tenente e soldado — assim mesmo, no masculino. É que, ao contrário da presidenta Dilma, elas não podem adotar o feminino nas patentes. Devem respeitar a regra oficial das Forças Armadas.
Mas, se fardadas Ana, Bianca, Marlisa e Ana Paula são tão sisudas quanto os caveiras (como se chamam os homens do Bope), off duty são extremamente femininas. Preocupam-se com a maquiagem, o corte de cabelo, a roupa que melhor veste. E, claro, com os filhos. A única mãe entre as quatro pediu para não ser identificada como tal para proteger a filha de 4 anos. “Ela é a minha prioridade máxima. Já saí no meio de uma missão importante porque me ligaram da escola avisando que ela estava passando mal”, disse. São posturas como essa que fazem com que o jeitinho feminino, muitas vezes, funcione melhor que a truculência masculina.
Marie Claire Por que resolveram entrar para o Bope?
Sargento Ana Assaltaram minha casa quando eu tinha 12 anos. Os ladrões se esconderam lá dentro e os policiais entraram para rendê-los. Um deles me colocou nas costas, para me proteger dos criminosos. Ali, vi que queria ser policial. Aos 18, tentei entrar na PM, mas não fui aceita porque o limite de altura era 1,70 m e eu só tenho 1,65 m. Anos depois, baixaram o limite e pude fazer a prova escrita e o teste físico — com corrida, salto, barra e flexão. Comecei no Batalhão de Choque, numa sala em cima da antiga sede do Bope. Um dia, o coronel me perguntou se eu queria trabalhar lá. Como sabia que era uma tropa unida, que prezava por um serviço sem corrupção, achei ótimo.
Soldado Ana Paula Quando terminei o segundo grau, vi que havia um concurso aberto para a PM. Nunca tinha pensado naquilo, mas resolvi tentar. Não é simples. Passei em tudo superbem, mas demorei quase dois anos para ser convocada. Acho que chamaram todos os homens da lista primeiro [risos]. Uma vez dentro da polícia, ouvi os colegas dizerem que a melhor unidade da PM era o Batalhão [além da fama de incorruptíveis, os caveiras ganham R$ 1.500 a mais que outros colegas de farda]. Quando tive a oportunidade, não pensei duas vezes.
Tenente Marlisa Meu irmão era oficial do Corpo de Bombeiros e me incentivou a fazer a prova para a PM. Tranquei o curso de jornalismo na UFRJ e fui para o de formação da polícia. Três anos depois, retomei e concluí a faculdade. Passei a fazer assessoria de imprensa para a PM e, quando o oficial que cuidava da comunicação do Bope se afastou, fui indicada para o lugar dele. Topei porque adoro desafios.
Capitão Bianca Nunca pensei em ser policial, mas achei o desafio interessante quando abriram a vaga para psicólogos. Depois do sequestro do ônibus 174, em 2000 [em que a refém foi morta com um tiro acidental do Bope] a unidade percebeu que precisava reformular sua atuação, com a ajuda de um profissional especializado em gerenciamento de conflitos. Como sou formada em psicologia e tenho pós-graduação em psicologia aplicada à negociação de reféns, fui convidada para entrar no grupo.
MC Qual é sua missão? Negocia direto com o sequestrador?
Capitão Bianca Em primeiro lugar, motivo a equipe. Quando eles descem de uma comunidade, pergunto como foi, o que estão sentindo. Provoco a fala para ajudá-los a diminuir o stress. Quando há reféns, atuo como coaching, treino os negociadores e vou com eles para o combate. Não posso ficar cara a cara com o criminoso, porque preciso analisar a situação de fora, de uma posição estratégica. O negociador, no calor do momento, não tem o distanciamento crítico necessário. Por isso, vou ao local e o apoio [por meio de uma escuta, como no Tropa de elite 2]. Enquanto ele dialoga com o tomador de refém, eu monitoro a conversa e o ajudo a potencializar o efeito persuasivo. Meu objetivo é resolver a crise sem partir para a violência.


Por Mariana Kneipp e Marina Caruso. Fotos Daryan Dornelles
 Daryan Dornelles
Caveiras na insígnia do quepe e nas botas
MC Quais foram as missões mais difíceis para cada uma de vocês?
Sargento Ana Para mim, foi essa dos Bombeiros, aqui no Rio. Em junho, eles fizeram uma manifestação de 13 horas para reivindicar aumento de salário. No meio do processo, arrebentaram os portões, invadiram o quartel e dominaram o pátio central. Havia crianças e mulheres lá e eles usaram mangueiras e marretas para o combate. Nós e a PM entramos com bombas de efeito moral e gás lacrimogênio. Um coronel acabou ferido e 439 manifestantes foram presos. É muito triste entrar em conflito com irmãos de farda.
Capitão Bianca A ocupação das 13 favelas do Complexo do Alemão me marcou demais. [Em novembro, dois mil policiais civis e militares invadiram o morro para conter o tráfico de drogas e prender traficantes]. Já trabalhei em vários espaços de tensão, mas a necessidade de um psicólogo ali era ainda maior. Qualquer passo errado poderia gerar uma crise. Foram duas semanas sem dormir direito, entre plantões no quartel e em casa, com o celular na mão. Mesmo cansada, eu tinha de motivar a tropa.
Soldado Ana Paula Foi muito cansativo. Fiquei de segunda-feira de uma semana a terça da outra dentro do quartel. Também fui para o confronto. Subi o morro e fiquei lá durante 24 horas sem saber quando eu ia voltar para casa. Teve gente que virou até 48 horas. Você imagina como é complicado? Não tem banheiro na favela. Pode parecer besteira, mas, para mulher, é importante. Ainda mais quando estamos naqueles dias. Homem faz [xixi] em algum cantinho, né? Para Fem é complicado.
MC O que é Fem?
Tenente Marlisa Fem é o modo como as policiais femininas são chamadas em qualquer batalhão da polícia, não só no Bope.
Capitão Bianca É assim: ‘Chama aquela Fem. Fala com aquela Fem’. Se pararmos para pensar, é discriminador. A gente não vira e diz “chama aquele Masc”. Mas a polícia é fundamentalmente masculina. Somos minoria mesmo.
MC Já sofreram bullying por ser mulher? Os caveiras fazem brincadeira de mau gosto?
Soldado Ana Paula Para qualquer mulher que chega no Bope, é como se fosse um teste. O aspecto psicológico precisa estar preparado, porque te testam o tempo todo. No início, os colegas não te olham, não falam com você, é como se, sem dizer, dissessem: “O que você veio fazer aqui?”. É bem “pede para sair”. Mas a gente não pede. A gente fica porque tem de ficar, merece e quer muito.
Capitão Bianca Percebi mais preconceito por ser psicóloga, do que por ser mulher. Muitos caveiras me viam como uma X-9 [delatora] e, por mais que tivessem problemas, se recusavam a falar comigo. Achavam que meu trabalho era besteira, papo-furado. Tipo: “Somos do Bope, homens de preto. Somos fortes. Não precisamos disso”. Hoje, três anos depois, conquistei meu espaço. Tem até quem me procure no corredor e diga: “É rapidinho, doutora. Não é consulta, não. Só um conselho...” e ficamos duas horas na escada [risos].
MC O que uma Fem tem que uma mulher comum não tem e vice-versa?
Tenente Marlisa Para ser Fem é preciso ter força física, persistência e desprendimento. Tem de estar disposta a se adaptar ao meio, a abrir mão da sua vida normal, de civil. A palavra de ordem é versatilidade. Se for cheia de não me toques, não dura. Fui a primeira Fem a fazer o curso do GAM [Grupamento Aéreo e Marítimo, responsável pelo patrulhamento aéreo e marítimo da costa fluminense]. Passei no processo seletivo, dificílimo. E, logo no primeiro dia, o coronel disse que eu tinha de raspar o cabelo. Reclamei que isso não estava escrito em lugar nenhum e disse que não ia cortar. Aí ele me explicou que, para que o meu cabelo não prendesse na corda que vai no helicóptero, eu teria de cortá-lo. Passei um dia pensando nisso e, como queria muito fazer o curso, decidi cortar. A cabeleireira fez um rabo alto e, “pá”, cortou de uma vez só. Chorava tanto no salão, que uma criancinha veio me consolar. “Fica calma, fica.” Doeu. Mas valeu. Fui a primeira colocada do curso e os homens que não entraram disseram, de inveja, que foi um curso de frutinha. É assim mesmo. Mulher na PM tem de provar mais que homem.
Soldado Ana Paula As civis têm fragilidades e direito de vivê-las. A gente não. Eu me achava uma fresca, hoje não mais. Não tenho TPM nem dor de cabeça. Até choro vendo tevê, mas aqui não — não posso mostrar minha parte frágil. Quando começou a UPP [Unidade de Polícia Pacificadora] na Cidade de Deus, as crianças se aproximaram de mim, deram desenhos, cartinhas. Uma menina com uniforme escolar me perguntou se eu tinha mãe e se conhecia o viaduto de Madureira [na Zona Oeste do Rio]. Ela devia ter uns 7 anos e disse que morava lá com a mãe, mas quando foi para a Cidade de Deus, os traficantes mataram o pai dela e mandaram a mãe embora. Ela ficou o tempo todo ao meu lado, segurando a minha mão e eu não sabia o que dizer. Isso mexeu muito comigo. Tive vontade de chorar, mas segurei. No quartel, liguei para o conselheiro e pedi que ele ajudasse a garota.
MC Como foi o curso de ingresso no Bope? Vocês passaram por aquelas provações do filme?
Capitão Bianca Não, não fizemos o Curso de Operações Especiais [que dura 14 semanas e forma os caveiras da linha de frente do Bope]. É muito duro para uma mulher, e bem pior do que mostra o filme, física e moralmente. Não podemos dar detalhes, mas acaba sendo incompatível com o perfil feminino. A nossa estrutura não sustenta. Só de armamento são mais ou menos 20 a 25 kg, fora a mochila, o fardamento. Já teve uma Fem da Marinha que se inscreveu no Cat [Curso de Ações Táticas, que dura cinco semanas e é cheio de agachamentos, flexões e outros exercícios puxados], mas não suportou.
Soldado Ana Paula Não somos frágeis, mas somos mulheres e a natureza nos deu limitações físicas. Vamos à operação, mas não podemos ser ponta de lança. Não entramos no Caveirão, só nas viaturas. Entramos nas favelas, fardadas, revistamos mulheres, ajudamos na negociação com traficantes, levamos armamentos e resgatamos o pessoal que entrou a pé.
MC Como vocês mantêm a forma?
Soldado Ana Paula Educação física duas vezes por semana é obrigatório para o batalhão todo. Tem corrida, flexão de braço, rapel, escalada. A gente também faz instruções de tiro, assiste a palestras, tudo em torno do nosso serviço, para não ficar defasada. O mais difícil é o fator surpresa. A educação física é às terças e quintas, mas, às vezes, você está subindo a escada, e o coronel te olha e manda correr, de surpresa. Imagina o que é você chegar de manhã numa segunda-feira e, do nada, ter de correr?
 Daryan Dornelles
Colar com o símbolo e esmaltes coloridos





 Daryan Dornelles
Detalhes na lapela da farda e nos acessórios
MC Três de vocês são casadas e uma namora firme. O que eles acham do trabalho de vocês?
Tenente Marlisa Na semana passada, tivemos uma ocorrência. Meu marido, que trabalha na área de Inteligência da Polícia Civil, teve que me trazer aqui às 2h30. Chegamos e vimos 150 homens, de preto. Ele não falou nada, mas, se fosse o contrário, ia ser um baque para mim. Ele sabe como funciona, tem orgulho de mim, mas ficou meio balançado quando entrei aqui. Por toda a mística do Bope. Sempre pergunta onde vou ficar, se vou levar colete. E, às vezes, solta “vai ter lugar para você dormir sozinha”? Minha mãe sofre mais. Na primeira vez que fui em uma operação, ela ligou chorando. Tive de dizer que estava fora da linha de tiro.
Capitão Bianca Teve um acionamento às 22h em Petrópolis. Meu marido me deixou aqui no batalhão às 4 h. Fui até lá, fiz a negociação, liberei o refém e voltei de manhã para a casa da minha mãe. Ou seja, a família inteira entra na operação. Há sempre demandas fora de horário. Tem de aprender a se adaptar.
MC E o que eles acham de ser uma mulher fardada em casa? Têm fetiche?
Capitão Bianca Meu marido não curte. Nunca pediu. Admira, acha legal, mas não tem essas coisas.
Soldado Ana Paula Realmente não tem fetiche. Ele não costuma me ver fardada. Mas, uma vez ia participar de uma solenidade, e coloquei a farda que estava em casa. Como não a vestia havia algum tempo, queria ver se estava ok. Quando ele me viu, ficou surpreso, pegou o celular e tirou um monte de fotos. Não esperava aquela reação. Depois ele mostrou a foto pra um monte de gente... todo orgulhoso [risos].
MC Como fica a vaidade de vocês, por trás dessa farda tão masculina?
Tenente Marlisa A primeira coisa que eu perguntei quando cheguei aqui foi onde era o salão de beleza mais próximo. Na hora do almoço, corro lá para fazer as unhas.
Capitão Bianca A farda já é tão masculina. Temos de colocar um brinquinho, uma pulseira, o que for. O meu brinco é uma caveira dourada. Tento ficar mais feminina e ando com batom dentro da farda.
Soldado Ana Paula A gente chega aqui toda arrumada, de salto, brincão de argola. Trocamos tudo pela farda. Mas quando chegamos com esmalte rosa ou uma cor mais forte, os caveiras brincam que temos de pintar de preto.
MC Já pensaram em desistir?
Tenente Marlisa No meu terceiro ano, fiz a etapa de operações reais, no Vidigal. Foi a primeira vez que vivi um confronto direto. Estava com colete, armada, enfrentando troca de tiro. Ali, eu pensei se era aquilo mesmo que eu queria. Mas foi só um questionamento. Não uma vontade de sair.
Sargento Ana Desistir? Nem pensar. O Bope é a minha segunda casa. Se eu pudesse colocar um coração ao lado da insígnia eu colocaria [risos]. Amo o Bope, amo estar aqui. Entrei há dez anos, mas não vejo o tempo passar. Faltam mais dez anos para eu me aposentar e quero fechar por aqui mesmo.
MC De que maneira o jeitinho feminino leva vantagem sobre a truculência masculina?
Soldado Ana Paula Como somos menos intimidantes, se aproximam mais da gente. Outro dia, estivemos em uma operação na Mangueira e uma mulher se aproximou e colocou um bilhete na minha mão, todo dobrado. Quando fui ver, era uma denúncia anônima, de um mototaxista, avisando que para poder circular pela Mangueira, ele e os colegas eram obrigados a pagar “um dízimo” de R$ 45 ao traficante que chefiava o crime na favela. Na hora, passei a denúncia para o meu tenente-coronel, que tomou as medidas necessárias. Dificilmente uma coisa dessas teria acontecido com um homem. As pessoas têm menos medo da gente, porque somos mulheres. Isso é bom, aproxima da população.
MC Vocês já se acostumaram com a morte? Já mataram alguém?
Todas Nunca matamos.
Capitão Bianca Se eu falar que não sinto nada quando vejo mortes em confrontos, seria desumana. É claro que eu sinto. Mas não chega a afetar a minha vida. Dói, você não consegue tirar aquilo da cabeça, mas, aos poucos, vai se diluindo. É de cada um. Não sou uma pessoa fria, as coisas me tocam. Não excluí a minha sensibilidade, apenas aprendi a lidar com ela. Não perco o sono por isso, mas não deixo de sentir...
Tenente Marlisa O momento mais marcante para mim nesse sentido foi no meu primeiro ano de formação, quando uma menina da minha turma morreu com um tiro acidental dentro de um ônibus. Um aluno do segundo ano se assustou com a situação de confronto que estava armada, disparou e a bala pegou no rosto dela. Ela dormia do meu lado, éramos unha e carne [emocionada]. Hoje tenho sete anos de formada e já perdi quatro colegas. É uma dor que fica, mas, ao mesmo tempo, prepara para as próximas. Meu marido já trabalhou na [favela da] Maré. Ele escolheu ir para lá num momento de muita violência. A morte está presente para a gente. Temos de estar preparadas para tudo.
MC Acreditam em Deus? Não acham que ele pune quem mata?
Tenente Marlisa Se não acreditasse em Deus, não estaria aqui. Tenho certeza de que nada acontece por acaso. Há uma lógica em tudo.
Capitão Bianca Eu também acredito em Deus, mas faço terapia há anos. Não tem como não fazer. O policial do Bope tem de ter uma capacidade de gerenciar stress muito grande. A terapia ajuda nisso. Os caveiras são formados para lidar com stress, privações de sono e outras necessidades fisiológicas. E, sobretudo com a proximidade da morte....
 Daryan Dornelles
Decoração feminina no armário do alojamento do quartel

Fonte: http://revistamarieclaire.globo.com/Revista/Common/0,,EMI259459-17737,00-BATOM+NA+CAVEIRA+UMA+CONVERSA+EXCLUSIVA+COM+AS+UNICAS+QUATRO+MULHERES+DO+BO.html


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