sexta-feira, 18 de março de 2011

Cresce número de mulheres à frente da segurança pública

Mais de 18,5 milhões de famílias brasileiras são comandadas por mulheres, segundo pesquisa divulgada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) no mês passado. Mas não é só em casa ou no mercado de trabalho que as mulheres têm assumido um papel cada vez mais importante. Pelo menos em Minas Gerais, esse espaço tem sido conquistado também quando o assunto é segurança pública.

Esforço. Assim que entram para a 
Academia da Polícia Militar, mulheres 
passam pelos mesmos treinamentos 
realizados pelos homens
Nunca, no Estado, houve tantas mulheres atuando contra o crime. Atualmente, a Polícia Militar conta com 3.727 mulheres. Em 1981, as primeiras 112 profissionais conquistaram o direito de fazer parte da corporação. Ou seja, um aumento de 3.227% em 28 anos.

Já na Polícia Civil, trabalham 1.999 mulheres. São mais de 260 delegadas na ativa. A primeira delas foi nomeada após um concurso, em 1972.

Restrição. Muitos obstáculos foram superados nas últimas décadas, mas o crescimento da presença feminina nos batalhões e delegacias poderia ser maior. Uma lei estadual restringe o número de mulheres na Polícia Militar, que só pode chegar a 10% do total geral de homens da corporação.

Os números também revelam que ainda há resistência e preconceito. A PM conta com aproximadamente 47 mil integrantes. Deste total, 3.727 são mulheres, ou seja, apenas 7,9%.

Já na Polícia Civil, considerando o total de 9.506 servidores, 7.507 são homens, o restante, 1.999, cerca de 20%, são mulheres, segundo levantamento realizado no mês de outubro de 2008 pela polícia.

"Situação em MG não é das piores"
Segundo o capitão Gedir Rocha, da comunicação social da Polícia Militar, até o ano de 2007, a legislação estadual vigente previa que, do total geral de policiais militares, apenas 5% dos cargos existentes seriam destinados para as mulheres. A partir de 2007, a previsão do número de mulheres na instituição cresceu para 10%. "Essa medida pode ser considerada mais uma conquista", disse. De acordo com o capitão, em outros Estados, a mulher que integra a PM só pode chegar até uma determinada patente. (FZ)

Curiosidade
São Paulo. A primeira polícia feminina do país foi a de São Paulo. Em 1953, Hilda Macedo, assistente de criminologia, defendia que as mulheres eram competentes para o trabalho policial.
Testes físicos colocam à prova a força das mulheres militares
MINIENTREVISTA
"Cota na polícia é uma forma de restrição"
Sara da Costa Diretora da Amproseg
A legislação estadual prevê um número determinado de mulheres na Polícia Militar. A medida é preconceituosa? É um grande preconceito. Uma maneira de restringir a participação das mulheres na carreira militar.

Qual é a justificativa dos legisladores para adotarem essa medida? A única justificava é que, na Polícia Militar, o efetivo de homens tem que ser maior, pois existem determinadas situações, ou serviços, que as mulheres não dariam conta de realizar fisicamente.

De que maneira as mulheres que integram a Polícia Militar de Minas reagem contra essa situação? A Associação das Mulheres Profissionais de Segurança Pública (Amproseg) foi crida, há cerca de dois anos, justamente para defender os direitos e lutar pela valorização das mulheres. (FZ)
SUCESSO NA POLÍCIA
Histórias de coragem e determinação
Destaques em suas corporações, elas revelam conquistas profissionais
Década de 70. Mais de 5.000 pessoas se inscrevem em um concurso público da Polícia Civil. Pela primeira vez, mulheres poderiam participar. Atraída pelo sonho de trabalhar na área criminal, a advogada Ivete Melo Braúna, na época com 27 anos, encarou de frente o desafio.

O que ela não imaginava é que fosse entrar para a história como a primeira delegada concursada do país e, anos depois, ser a primeira mulher a integrar o Conselho Superior da Polícia Civil.

Trinta e três anos se passaram e, hoje, com 61 anos, Ivete se orgulha do feito que abriu caminhos para outras mulheres. "Lembro que, na época, virei uma atração.

A repercussão foi imensa na imprensa. Fui a única mulher aprovada e conquistei a terceira colocação geral", conta.
A delegada, atualmente aposentada, diz que precisou superar o preconceito. "A mulher que resolve atuar na polícia tem que se impor para ser respeitada. É preciso se desdobrar para conseguir crescer dentro da instituição. E de 1970 para hoje, pouca coisa ou quase nada mudou em relação ao preconceito", afirma.

Década de 80. A exemplo do que já havia feito as Polícias Militares de São Paulo e do Paraná, Minas Gerais permite que mulheres atuem na corporação.

Em 1981, a então estudante do segundo período de engenharia civil Luciene Magalhães de Albuquerque resolveu ceder aos pedidos da mãe, professora do colégio Tiradentes.

Mais que fazer o concurso, a jovem de apenas 18 anos passou em primeiro lugar. Naquela época, ainda indecisa sobre a carreira, ela mal poderia pensar que se tornaria a coronel Luciene: a primeira mulher a comandar uma tropa masculina no Brasil.

"Após uma semana assistindo às primeiras palestras, que explicavam qual era o verdadeiro papel da polícia, percebi que havia encontrado a minha verdadeira vocação.
Entendi que fazer parte da polícia seria uma oportunidade de atuar em diversos setores, ser útil para a sociedade", explica.

Hoje, aos 47 anos, a coronel Luciene é subchefe do Estado Maior. E o cargo espantou também as brincadeiras sofridas no início da carreira. "Nunca senti um tom pejorativo, embora os comentários fossem inevitáveis". A primeira ocorrência, de tão inusitada, tornou-se mais firme na lembrança. "Estava uniformizada no centro. Um homem passou de carro e se distraiu ao ver uma mulher fardada. Ele bateu o carro", conta.

Vocação em família. Além de gêmeas univitelinas, as irmãs Elizabeth e Margaret de Freitas Assis Rocha, 41, escolheram a mesma formação acadêmica e também a mesma carreira: delegadas da Polícia Civil de Minas. Em poucos minutos de conversa com a reportagem, outra semelhança se evidencia. Ambas tratam o trabalho como uma missão.

"A cada dia aprendemos novos ensinamentos no trato com os conflitos humanos", diz Margaret. Já Elizabeth acrescenta que as mulheres são muito bem preparada para gerenciar conflitos, situações frequentes na polícia. Para as irmãs, o preconceito existe não só por parte dos colegas como da sociedade.

Efetivo da PM
Mesmo com a alteração da lei estadual, em 2007, que permitiu aumentar o número de mulheres na PMMG, em mais 5%, até o presente momento, o número de mulheres na instituição não chega a 8% do efetivo total.
APELO
Luta pelas mulheres militares
Mês passado, durante reunião realizada na Assembleia Legislativa, a capitã da Polícia Militar Maria Carmem de Castro, que também integra a Associação das Mulheres Profissionais de Segurança Pública (Amproseg), defendeu a aprovação, no Projeto de Lei Complementar, de medidas que igualem os direitos da categoria ao de outras trabalhadoras.

Ela citou a extensão da licença-maternidade para 180 dias (conforme prevê legislação federal aprovada há um ano) e a concessão de aposentadoria especial, com redução de 30 para 25 anos de tempo de serviço para as militares (a legislação atual não diferencia homens de mulheres militares, prevendo 30 anos nos dois casos).

Ao fim do encontro, ela fez um apelo: "Em nome da democracia, pedimos que os direitos das mulheres militares sejam respeitados e passem a constar nas leis maiores, como esse estatuto que será alterado e outras que regem a polícia". (FZ)

Homens são privilegiados em concurso
A Guarda Municipal de Belo Horizonte foi criada em 20 de janeiro de 2001 e, assim com as polícias Militar e Civil, também integra mulheres em seu quadro funcional. Dos 1.874 guardas que fazem parte da corporação, 49 são mulheres. A Prefeitura divulgou neste mês edital para concurso que prevê a abertura de 600 vagas para o cargo de guarda municipal.

Do total de oportunidades, 570 são reservadas para homens e 30 para mulheres.
Para o secretário de Estado de Defesa Social, Maurício Campos Júnior, a restrição do número de vagas para as mulheres na polícia leva em conta o emprego da força. "Há tarefas em que as mulheres devem ser poupadas. A medida é uma garantia e um avanço. O importante é a qualidade". (FZ)

Fonte: http://www.otempo.com.br/otempo/noticias/?IdEdicao=1454&IdCanal=6&IdSubCanal=&IdNoticia=124355&IdTipoNoticia=1

Nenhum comentário:

Postar um comentário